
Tudo isso para explicar por que foi tão surpeendente descobrir no Mercado de Curitiba (para onde fui a trabalho) um saco de erva seca, muito familiar. Tomei-o na mão...e fiquei emocionada: era ela , "A" Mulokhya ao vivo e a cores. Comprei o pacote, trouxe-o cuidadosamente para o Rio de Janeiro, guardei-o para quando o coração aguentasse a aventura de preparar o festim pela primeira vez desde 1977, e enfim, num domingo deste ano, os aromas de sementes de coentro refogadas com alho, a Taklya, dominaram o ambiente de nossa casa! Podem imaginar que lágrimas e risos foram os outros ingredientes...
Com vocês, para vocês, para que fique para minhas filhas e meu filho, A MULOKHEYA DA VOVÓ MIMI!
- 1/2 pacote de folhas secas de Mulokhya, ou 1 pacote de Mulokheya congelada (pode-se encomendar a seca em São Paulo na Maxifour ou na Biblos e receber pelo correio, e meu irmão Jean-Claude disse que de vez em quando a Casa Pedro, no Rio, tem).
- 2 litros de caldo de frango ou carne, feito na hora
- 2 cebolas grandes
- 4 cebolas roxas
- sal
- 10 dentes de alho socados (deve dar cerca de seis colheres de sopa)
- 3 colheres de sopa de sementes de coentro socadas
- manteiga e óleo
- 1 dz de pães boinas torrados (o melhor pão do Rio se compra na Padaria Bassil, no Saara, aquela de ladrilhos preto e branco, fundada em 1913)
- arroz branco
O caldo:
- Limpe e corte em pedaços um frango sem os miúdos e sem os pés (ou 1 kg de músculo), coloque numa panela funda junto com as cebolas brancas, cubra com água, tempere com sal e quando levantar fervura, deixe cozinhar em fogo bem baixo por cerca de uma hora (pode fazer isso de véspera).
Se usar a Mulokheya seca, pique-a com uma faca sobre uma tábua, para que fique em pedaços bem pequenos, tendo o cuidado de retirar os raminhos. Deixe-a de molho em água filtrada por cerca de 15 minutos, para hidratá-la.
- Retire o frango e as cebolas da panela onde cozinhou e reserve-os em uma travessa que vá ao forno (coloque uns pedacinhos de manteiga sobre o frango: doure no forno um pouco por cerca de 15 minutos antes de ir à mesa).
- Escorra as folhas que ficaram hidratando, e coloque-as no caldo, sempre em fogo baixo. Acrescente 1/4 de copo de vinagre na sopa para ela não ficar muito babenta.
- Enquanto a sopa está cozinhando, prepare o refogado, que é o segredo desta sopa e chamamos de Taklya: derreta duas colheres de sopa de manteiga numa frigideira, frite o alho e quando ele corar um pouco acrescente o coentro já socado. Sinta o perfume!
- Coloque um pouco da Mulokheya nesta mistura (como se faz com o tempero do feijão) e misture este refogado à sopa, na panela.
Dica: este refogado se faz na hora de ir à mesa.
Molho e acompanhamento:
- Pique 4 cebolas roxas em pedaços pequenos e coloque numa tijela cobrindo com vinagre (pode ser branco ou tinto) e temperando com uma colherzinha (de café) de sal.
- Prepare uma panela de arroz branco bem soltinho.
- Torre o pão árabe dividindo cada boina ao meio (em suas duas folhas)

- Leve à mesa o molho de cebola, o arroz, o pão árabe, o frango ou o músculo cortado em pedaços e uma sopeira com a Mulokhya.
- Em pratos fundos, cada um monta sua sopa como preferir, e esta é uma brincadeira familiar: examinar as diferentes maneiras de montar o prato.
- Meus pais faziam assim:
- um pedaço de pão árabe torrado que se aperta contra o fundo do prato, quebrando-o em pedacinhos;
- duas ou três colheres (de sopa de arroz);
- duas ou três conchas bem cheias de Mulokhya;
- duas ou três colheres de sopa da cebola roxa picada (com um pouco do vinagre);
- um pedaço de frango ou carne.
- Eu prefiro deixar o pão para o topo, para não amolecer muito. Já meu irmão Bernardo dispensa o arroz. E meu tio Raymond dispensava o frango e comia sua sopa numa saladeira funda, prato era pouco!
- Ao final da refeição, a graça é molhar pedaços de pão torrado na sopeira e comer assim diretamente, ouvindo pela milésima vez a história que minha mãe contava e hoje repito:
- No Egito, as famílias se reuniam em torno da sopeira, com seus pães. As pessoas mais pobres não tinham carne de carneiro para colocar no caldo, nem frango ou carne de vaca. A sopa era feita com água mesmo. Cada um mergulhava seu pedaço de pão (sem torrar) na sopa e comia. E se havia muitas bocas, a mãe dava um tapinha na mão do filho, para cair o excesso de Mulokhya.
Si non è vero...
Não me lembro da música que ouvimos nesse almoço em que estiveram Manoela, Pedro, Elisa, Jorge e eu. Faltou Caetano. Faltaram todos os que já se foram. Mas eu me lembro bem de minha mãe cantando La vie en rose. Com ela aprendi a amar Piaf. Graças ao You Tube resgatei esta gravação de 1954.
---------------------------------------------------------------------------------
3 comentários:
É engracado, mas eu nao me lembro do frango, mas lembro muito bem do músculo cozido, de que gostava muito.
A da Marie Jose realmente é inigualável.
Oba, mais uma receita imperdível da família tão querida!
Cris Javier
Postar um comentário