domingo, 22 de junho de 2008

Dia 024: Sopa Vichyssoise Tupiniquim / Vichyuca do Celidônio

Gostaria de saber se em Vichy se toma Vichyssoise. Porque na Suíça ninguém conhece limonada suíssa por exemplo... e muito menos fazem a bebida com a casca do limão. Eu nunca tinha tomado uma sopa fria, até experimentar a Vichyssoise, que é muito leve e suavemente cremosa, com os legumes bem batidos.

O Chef José Hugo Celidônio adaptou esta receita famosa aos ingredientes tupiniquins e substituiu a batata por aipim. Jorge se encantou pela proposta e a preparou para nós. Em vez de vinho, nós a acompanhamos por uma cerveja preta muito saborosa, a Erdinger.

E do IPod que eu aprendi com Simon Schwartzman que vira um WePod, muito rapidamente, saía a voz densa de Carmen McRae do álbum Divas do Jazz.

Receita de Vichyssoise Tupiniquim / Vichyuca do Celidônio

Ingredientes (para 6 pessoas):
  • 1,5 litro de caldo de galinha (se preferir, em lugar do tablete pode preparar umc aldo com as carcaças de um frango, mais cebola e alho-poró)
  • 1/2 kg de aipim (dá umas três raizes médias)
  • 2 alhos-porós
  • 2 cebolas médias
  • gotas de molho inglês
  • 1 caixinha de creme de leite (200g)
  • cebolinha verde cortada em rodelinhas finas
  • sal e pimenta-do-reino (Celidônio recomenda a branca, eu usei a preta mesmo)
Modo de fazer:

  • Descascar e lavar bem o aipim, cortando depois em seis ou oito pedaços e deixando de molho
  • em água. Lavar bem e cortar as partes brancas do alho-poró. Descascar as cebolas e cortá-las em quatro pedaços.
  • Numa panela, colocar o caldo de galinha, aipim, alho-poró, as cebolas, o sal e a pimenta. Levar ao fogo, deixar ferver, abaixar a chama e deixar cozinhar até o aipim ficar bem macio.
  • Passar no liquidificador até que fique um creme uniforme (Zé Hugo recomenda coar se ficarem fibras do aipim, mas eu nem considerei esta hipótese).
  • Deixar esfriar um pouco e acrescentar o creme de leite e corrigir sal e pimenta-do-reino. Acrescentar gotas de molho inglês e colocar para gelar bem.
  • Servir em taças para consommé (aquelas que têm duas alcinhas), colocando por cima da sopa um pouco de cebolinha picada.
Observação: Como não tínhamos taças de consomé, servimos em tijelas mesmo coloridas. Isso do prato certo, vai do bom gosto, criatividade e disponibilidade de cada um.

Variação: nós a tomamos morna nessa noite, e o que sobrou, tomamos gelada, no almoço. Gostei das duas versões.

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Dia 023: Sopa de Beterrabas / Borscht à minha moda

Depois do cineminha ou do teatro, por muitos anos tínhamos um destino certo: o Restaurante A Polonesa em Copacabana, para tomar a Sopa de Beterrabas (barszcz ou borscht para aportuguesar), seguida do imbatível Suflê de Chocolate, que devia ser encomendado ao início da refeição, sob pena de ficar mais de meia hora esperando sua preparação.

Quando ainda se colecionavam receitas de jornal, coladinhos em cadernos e nem se pensava em salvar a receita em word e blogs, O Globo publicou a tão apreciada receita! E eu a repeti tanto aqui em casa que ela foi ganhando a minha cara, e perdendo vários ingredientes da receita original. Ficou mais fácil e rápida de fazer.

O segredo? Um limão espremido depois que a sopa está pronta, antes de ir à mesa.


Receita de Sopa de Beterrabas / Borscht à minha moda

Ingredientes (para 4 pessoas):
  • 4 beterrabas médias
  • 1/2 litro de água
  • 1 limão
  • sal e pimenta
  • 1 colher (de chá) de açúcar
  • 2 colheres de sopa de creme de leite
Modo de fazer:
  • Lave bem as beterrabas com sabão e uma escovinha, em água corrente;
  • Corte em 4 ou 5 pedaços, com a casca;
  • Coloque numa panela, com a água o sal, a pimenta e o açúcar, para cozinhar (quando levantar fervura, abaixe a chama e deixe cerca de 30 minutos);
  • Quando as beterrabas estiverem macias, apague o fogo, deixe esfriar um pouco e bata no liquidificador com a água do cozimento;
  • Volte à panela, deixe levantar fervura novamente, e se estiver muito grossa, afine com um pouco de água quente;
  • Na hora de servir, apague a chama e acrescente o suco de um limão;
  • Leve à mesa com uma tijela de creme de leite;
  • Cada pessoa acrescenta à sopa a quantidade de creme que preferir;
  • Sirva com torradinhas.
Dica 1: Eu costumo brincar com este contraste e faço desenhos com o creme de leite que verto cuidadosamente para ele não afundar. Pode-se usar aquele saquinho de confeiteiro (obviamente não à mesa).

Dica 2: esta é uma sopa perfeita para inverno (servida quente) e verão (servida gelada).

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Dia 022: Sopa de Cogumelos

Manoela e Pedro (filha e genro) moram pertinho de mim, aqui em Botafogo mesmo. E desde que eles resolveram viver juntos, Manoela - que vive na rua pois trabalha muito, é dona de uma empresa de comunicação, a MediaGuide, e faz muito esporte - passou a gostar de ficar em casa (pelo menos um pouco mais) e a se interessar por cozinha e receitas. Toda hora ela me liga e eu lhe passo aquelas receitas favoritas de nossa casa, tipo vapt-vupt. Adoro comida gostosa, bem-feita e sobretudo rápida! nada de perder muito tempo na cozinha.

E como tudo é pretexto para encontro, dia desses ela resolveu nos fazer provar o salmão que lhe ensinei a fazer. Eu fiquei encarregada da sopa de entrada, claro!

Escolhi preparar uma sopa de cogumelos. Adoro-os todos: de paris, shiitaki, shimeji, funghi secchi, tudo. Esta receita é facílima e muito saborosa. Originalmente, a receita francesa é feita com échalotes (nem cebola nem alho, mas a échalote francesa verdinha). Na sua falta, eu simplesmente utilizei cebolinha verde, cebola e alho. Valeu a pena. Aí vai.

Receita de Sopa de Cogumelos (Champignon de Paris)

Ingredientes (para 4 pessoas):
  • 1 bandeja de Cogumelos de Paris (cerca de 500g)
  • 1 cebola grande
  • 1 dente de alho
  • um maço de cebolinha (a parte branca com um pouco da parte verde) ou 4 échalotes, se encontrar
  • 1 colher de sopa de azeite de oliva
  • 1 xícara de chá de leite
  • 100 ml de creme de leite (meia caixinha)
  • 1/2 litro de água
  • sal e pimenta a gosto.
Modo de fazer:
  • Lave bem e pique as cebolinhas;
  • Lave e corte em pedaços os cogumelos (se usar cogumelos em conserva, escorra e enxágue);
  • Na panela em que vai preparar a sopa, aqueça o azeite e refogue as cebolinhas, a cebola e o alho picado, até que a cebola fique transparente;
  • Acrescente os cogumelos e deixe refogar mais um pouco, em panela tampada;
  • Acrescente a água, o leite e o creme de leite, o sal e a pimenta e deixe cozinhar por cerca de 15 minutos com a panela destampada;
  • Apague a chama, deixe esfriar um pouco e passe tudo no liquidificador;
  • Na hora de servir, aqueça bem e corrija os temperos (sal e pimenta).
Com um bom vinho tinto e boa música, periga do almoço se prolongar até o jantar... Entre as que ouvimos neste dia, estava esta ótima de Manu Chao, Me gustas tú. Esta outra também é excelente Desaparecido.

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sábado, 14 de junho de 2008

Dia 021: Sopa de Morangos Bêbados

A última sopa da Festa de Sopas para Lorenzo e Anita foi obviamente uma sobremesa: batizei-a de Morangos Bêbados, dentro do espírito de não chamar nada de sopa, para não despertar a rejeição da Anita! É uma combinação de morangos, vinho tinto e aniz estrelado. Pode ser tomada pura, mas nós gostamos de combiná-la com uma bola de sorvete de creme.

Receita de Sopa de Morangos Bêbados

Ingredientes (para 4 pessoas):
  • 1 caixinha de morangos maduros
  • 2 copos de vinho tinto (cerca de 350ml)
  • 100 g de açúcar
  • 2 colheres de sopa de vinagre balsâmico
  • 3 unidades de aniz estrelado
Modo de fazer:
  • Lave os morangos, tire os cabinhos e corte em dois ou em quatro pedaços (dependendo do tamanho de cada fruta).
  • Coloque-os numa tijela, regue-os com o vinagre balsâmico e pulverize-os com o açúcar.
  • Acrescente o vinho tinto, que deve cobrir os morangos,e as estrelinhas de aniz.
  • Leve para o refrigerador por 1 a 2 horas antes de servir.
Variação: em lugar do aniz estrelado, pode-se acrescentar um pouco de pimenta do reino moída na hora, bem no momento de ir à mesa.
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Dia 020: Caldo Verde

Na Festa de Sopas para Lorenzo e Anita, o prato principal foi o Caldo Verde, depois das entradinhas de sopa (Shake de Pepino e Rouge Passion, de Melancia). Acertei em cheio: é uma das únicas sopas que Anita aprecia. Eu sempre gostei, adoro o Caldo Verde do Lamas, e Jorge ficou apaixonado por seus sabores quando provou um prato e pediu bis na festa dançante de aniversário da mãe de meu genro Pedro, Mara Nino, na SEAERJ (Sociedade de Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro), na Glória.

O Caldo Verde é uma das nossas heranças da colonização portuguesa: prato típico do Minho. Lá é feito com o chouriço, bem diferente do nosso. Aqui pode ser adapatado com lingüiça ou paio, e fica ótimo igual. Acho uma sopa super fácil de fazer e muito adequada aos dias mais frescos de junho. Podemos até batizá-la de sopa junina, pois é presença certa nas Festas de São João. O ingrediente básico, que lhe sugere o nome, é a couve sempre verdinha. Tão difícil explicar aos não brasileiros e não portugueses o que é esta hortaliça que cresce como mato! É conhecida também como couve manteiga, ou couve galega. Em francês é choux vert. Eu plantei em Mury, e sei o quanto ela se reproduz!


Receita de Caldo Verde

Ingredientes (para 4 pessoas):
  • 4 batatas médias (eu conto uma batata por pessoa)
  • 1 paio (lingüiça ou chouriço protuguês, como preferir)
  • 1 cebola
  • 1 maço de couve bem fresca
  • 1 litro e meio de água
  • sal e pimenta a gosto.
Modo de fazer:
  • Descasque e pique as batatas e a cebola e coloque para cozinhar na água com o sal (cerca de uma colher de chá). Quando levantar fervura, abaixe o fogo e deixe cozinhando até que as batatas estejam macias (em torno de 15 minutos).
  • Enquanto isso, lave bem a couve em água corrente, tire os talos grossos com uma faca afiada, e, sobre uma tábua, faça um rolinho com duas ou três folhas, apertando bem. Corte com a faca este rolinho, em tirinhas, o mais fino que conseguir, do mesmo jeito que se faz com a couve à mineira (tem gente que gosta da couve mais grossa, o que não é meu caso). Reserve.
  • Corte o paio em rodelas finas, e coloque numa panela, cobrindo com água, para cozinhar. Quando levantar fervura, desligue o fogo, escorra e reserve.
  • Quando as batatas estiverem cozidas, coloque-as com a cebola no liquidificador ou processador, tirando-as do caldo com uma escumadeira. Bata até conseguir uma espécie de purê (coloque um pouco do caldo do cozimento se precisar).
  • Volte este purê à panela onde está o caldo do cozimento. Quando levantar fervura, abaixe o fogo, acrescente o paio e deixe cozinhar por cinco minutos. Tempere com pimenta do reino (de preferência moída na hora), prove o sal e corrija, se necessário.
  • Só na hora de ir para a mesa, com a sopa fumegando e já com o fogo apagado, acrescente a couve cortadinha, mexa bem e... Bom apetite!
  • Servir com torradinhas.
  • No prato, cada um coloca um fio de azeite de boa qualidade (eu estou gostando muito do Colavita).
Dica: na arrumação da mesa, coloque além da colher um garfo para cada pessoa, pois às vezes é complicado só usar a colher nesta sopa.

Acompanhamos a sopa com um ótimo vinho tinto chileno que Lorenzo e Anita trouxeram, um cabernet sauvignon Tarapacá. Começamos ouvindo Charles Aznavour, em La Bohème. Descobri para vocês um vídeo lindo no YouTube, gravado em 2004, com seus cabelos muito brancos, mas o mesmo charme de sempre.

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sexta-feira, 13 de junho de 2008

Dia 019: Rouge Passion: Sopa de Melancia com Feta

Na Festa de Sopas para meu primo Lorenzo e sua namorada, a Anita, batizei cada sopa com um nome sugestivo que pudesse não evocar as experiências ruins que fizeram Anita não gostar de sopas... e que descobrimos que estavam ligadas às sopas de legumes insossas do colégio interno, sempre as mesmas...

No capítulo entradinhas frias, experimentamos esta sopa bem mediterrânea: fria, de melancia com queijo Feta.

Quando eu era bem pequena, na casa de meus avós maternos, meu avô sempre chegava com uma melancia inteira para a família. Ela não durava muito, tanto gostávamos todos desta fruta suculenta. No Egito, como nos países mediterrâneos em geral, costuma-se misturar frutas com queijos (melancia com queijo branco, peras com brie, e por aí vai).

Assim que, em minhas pesquisas, para o cardápio da Festa de Sopas, adorei ter dado de cara com esta sopa, que é servida no Bar à Soupes em Paris, perto da Bastilha.

O queijo Feta é feito de leite de ovelha, é branco e durinho, com um gosto azedinho muito peculiar. Os gregos o utilizam muito em saladas. E até chegarmos ao Brasil, era o único queijo branco que comíamos, rapidamente substituído pelo Queijo Minas, patrimônio nacional imaterial!


Comentário: este prato de cerâmica, que serve de base aos copos, é irmão do outro, que Jorge ia descartar, por ter saído torto em suas primeiras aulas de cerâmica no ateliê da Eva Schneider, em Mury. Foi também salvo por mim, como o outro, e devidamente esmaltado, para deleite de nossos olhos.

Receita de Rouge Passion / Sopa de Melancia com Queijo Feta

Ingredientes (para 6 pessoas):
  • 1 fatia grossa de melancia
  • 1/2 limão siciliano (amarelo)
  • folhas de dois raminhos de manjericão
  • queijo feta cortado em cubos
  • sal
Modo de fazer:
  • Tire a casca e as sementes da melancia, corte-a em pedaços.
  • Bata-a no liquidificador com o suco do limão (sem nenhuma água), tempere com sal (pouco).
  • Leve à geladeira até a hora de servir.
  • Na hora de servir, misture bem, coloque a sopa em copos de cristal ou vidro, coloque em cada um alguns cubos de queijo feta e umas folhinhas de manjericão picadas.
Ajuste: da próxima vez vou colocar um pouco menos de limão. Sugiro então que você comece por 1/4 de limão e ajuste ao seu gosto.

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quinta-feira, 12 de junho de 2008

Dia 018: Shake de pepino com aneto

Convidamos meu primo Lorenzo a tomar uma sopa aqui em casa, com Anita. Tinha uma recomendação: Anita não gosta de sopa. Quando falei com Anita ao telefone para combinar alguns detalhes (inclusive que eu faria uma quiche sem manteiga, sem nada que leve corante amarelo, por causa da grave alergia dia - e diga-se de passagem, consegui!), descobri que meu primo exagerado tinha-a convidado para uma Festa de Sopas!

Bem, idéia lançada, desafio aceito: preparei um cardápio de sopas, da entrada à sobremesa. E a cada uma dei um nome diferente, para Anita poder provar sem se fixar na rejeição à sopa.

Vou publicá-las aqui, as quatro receitas, dia a dia. Lá vai a primeira: shake de pepino com aneto, de entrada, servido no copinho de porcelana que minha amiga Ana Amélia Camarano trouxe do Japão, para nosso ritual de chá.

Detalhe: este prato de cerâmica que usei como bandeja foi feito a quatro mãos por mim e pelo Jorge, no ateliê da Eva Schneider em Mury. Eram as primeiras aulas do Jorge, a placa saiu torta do forno. Virginiano e perfeccionista, ele queria quebrá-la e jogá-la fora. Salvei a peça a tempo e a esmaltei. Hoje ele a adora... e aprendeu a apreciar o que "sai da norma".

Receita de Shake de Pepino com Aneto

Ingredientes (para 4 pessoas):
  • 1 pepino japonês (aquele mais fino)
  • 1/2 litro de leite semi-desnatado
  • 4 ramos de aneto
  • 1 colher (de café) de sal
  • pimenta a gosto
Modo de fazer:
  • Lave os pepinos, tire as pontas, pique-os com a casca e bata no liquidificador com o leite, o sal, a pimenta e o aneto.
  • Leve a geladeira por pelo menos uma hora antes de servir.
  • Na hora de servir, mexa novamente para que o creme fique homogêneo.
  • Sirva em copinhos ou taças, decorado com um raminho de aneto.
Variação: você pode substituir o aneto por hortelã.

Dica: eu achei esta sopa um pouco pesada. Da próxima vez, vou substituir o leite por iogurte, à maneira árabe.
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quarta-feira, 11 de junho de 2008

Dia 017: Mulokhya da Vovó Mimi

Desde pequena me lembro de um ritual temperado com alegria em nossa casa, primeiro lá na Silva Telles na Tijuca, uma rua só de casas, com o nosso prédio poderoso sobre pilotis. Depois em Copacabana, onde morei até casar: eram os almoços dos domingos de verão, onde a estrela era a Mulokhya. Tudo girava em torno dela. Era uma festa muito especial, quando todos os "rapazes" ficavam em casa (tio Paul, Lorenzo e Zouzou, que emigraram na mesma época e abriram o caminho de nossa família no Brasil) e eram convidados Oncle Raymond e Tante Ida, ela, irmã de meu avô postiço (padrasto de minha mãe, o meu Nonno, que me chamava de Princesse e Principessa, muito antes de "A Vida é Bela"). Ida e Raymond foram os primeiros a vir para o Brasil, moravam num pequeno apartamento no Catete, e visitá-los aos domingos era um longo programa, com direito a fotos, "cadeira do papai", da Gelli, e rabanetes mergulhados em água gelada e sal para ficarem crocantes.

Mas voltemos à Mulokhya: é o prato popular do Egito, assim como feijão com farinha aqui no Brasil. Qualquer birosca serve, com um pão boina (aqui chamado pão árabe). Mamãe logo descobriu que a apreciada erva, com formato parecido ao espinhafre, dizia ela (para mim, mais aparentada a uma folha de roseira, pela textura), era cultivada em Terezópolis e vendida nas feiras livres que a fascinavam (em cartas, tratando de seduzir a irmã para se mudar para além-mar, meu tio Paul contava que a terra era muito abundante e que se vendiam legumes e frutas nas ruas o ano inteiro - quando no Egito todo mundo fazia conservas e xaropes para estocar frutas e legumes).

Provar a Mulokhya, a sopa egípcia parecida com o caldo verde, era um rito de passagem para namorados e namoradas na casa de minha mãe. Ela condenava os que torciam o nariz e aplaudia os que ousavam provar. Depois que minha mãe morreu (tão cedo, sem nem conhecer os netos) e que Geraldice (minha prima, ex-mulher de meu primo Lorenzo) desistiu de caçar a erva na feira do Leme, minha chance era viajar 10 mil quilômetros para me abastecer de carinho e reminiscências gastronômicas, em Montréal, onde mora hoje a maior parte de minha família. A Mulokhya de Marie-José (hoje Habib, Christophe de solteira) é imbatível.

Tudo isso para explicar por que foi tão surpeendente descobrir no Mercado de Curitiba (para onde fui a trabalho) um saco de erva seca, muito familiar. Tomei-o na mão...e fiquei emocionada: era ela , "A" Mulokhya ao vivo e a cores. Comprei o pacote, trouxe-o cuidadosamente para o Rio de Janeiro, guardei-o para quando o coração aguentasse a aventura de preparar o festim pela primeira vez desde 1977, e enfim, num domingo deste ano, os aromas de sementes de coentro refogadas com alho, a Taklya, dominaram o ambiente de nossa casa! Podem imaginar que lágrimas e risos foram os outros ingredientes...

Com vocês, para vocês, para que fique para minhas filhas e meu filho, A MULOKHEYA DA VOVÓ MIMI!

Receita de Mulokheya da Vovó Mimi
ملوخية
Ingredientes (para 8 pessoas):

  • 1/2 pacote de folhas secas de Mulokhya, ou 1 pacote de Mulokheya congelada (pode-se encomendar a seca em São Paulo na Maxifour ou na Biblos e receber pelo correio, e meu irmão Jean-Claude disse que de vez em quando a Casa Pedro, no Rio, tem).
  • 2 litros de caldo de frango ou carne, feito na hora
  • 2 cebolas grandes
  • 4 cebolas roxas
  • sal
  • 10 dentes de alho socados (deve dar cerca de seis colheres de sopa)
  • 3 colheres de sopa de sementes de coentro socadas
  • manteiga e óleo
  • 1 dz de pães boinas torrados (o melhor pão do Rio se compra na Padaria Bassil, no Saara, aquela de ladrilhos preto e branco, fundada em 1913)
  • arroz branco
Modo de fazer:

O caldo:
  • Limpe e corte em pedaços um frango sem os miúdos e sem os pés (ou 1 kg de músculo), coloque numa panela funda junto com as cebolas brancas, cubra com água, tempere com sal e quando levantar fervura, deixe cozinhar em fogo bem baixo por cerca de uma hora (pode fazer isso de véspera).
A Mulokheya:
  • Se usar a Mulokheya seca, pique-a com uma faca sobre uma tábua, para que fique em pedaços bem pequenos, tendo o cuidado de retirar os raminhos. Deixe-a de molho em água filtrada por cerca de 15 minutos, para hidratá-la.
  • Retire o frango e as cebolas da panela onde cozinhou e reserve-os em uma travessa que vá ao forno (coloque uns pedacinhos de manteiga sobre o frango: doure no forno um pouco por cerca de 15 minutos antes de ir à mesa).
  • Escorra as folhas que ficaram hidratando, e coloque-as no caldo, sempre em fogo baixo. Acrescente 1/4 de copo de vinagre na sopa para ela não ficar muito babenta.
  • Enquanto a sopa está cozinhando, prepare o refogado, que é o segredo desta sopa e chamamos de Taklya: derreta duas colheres de sopa de manteiga numa frigideira, frite o alho e quando ele corar um pouco acrescente o coentro já socado. Sinta o perfume!
  • Coloque um pouco da Mulokheya nesta mistura (como se faz com o tempero do feijão) e misture este refogado à sopa, na panela.

Dica: este refogado se faz na hora de ir à mesa.

Molho e acompanhamento:

  • Pique 4 cebolas roxas em pedaços pequenos e coloque numa tijela cobrindo com vinagre (pode ser branco ou tinto) e temperando com uma colherzinha (de café) de sal.
  • Prepare uma panela de arroz branco bem soltinho.
  • Torre o pão árabe dividindo cada boina ao meio (em suas duas folhas)
Montagem do prato na mesa:

  • Leve à mesa o molho de cebola, o arroz, o pão árabe, o frango ou o músculo cortado em pedaços e uma sopeira com a Mulokhya.
  • Em pratos fundos, cada um monta sua sopa como preferir, e esta é uma brincadeira familiar: examinar as diferentes maneiras de montar o prato.
  • Meus pais faziam assim:
    • um pedaço de pão árabe torrado que se aperta contra o fundo do prato, quebrando-o em pedacinhos;
    • duas ou três colheres (de sopa de arroz);
    • duas ou três conchas bem cheias de Mulokhya;
    • duas ou três colheres de sopa da cebola roxa picada (com um pouco do vinagre);
    • um pedaço de frango ou carne.
  • Eu prefiro deixar o pão para o topo, para não amolecer muito. Já meu irmão Bernardo dispensa o arroz. E meu tio Raymond dispensava o frango e comia sua sopa numa saladeira funda, prato era pouco!
  • Ao final da refeição, a graça é molhar pedaços de pão torrado na sopeira e comer assim diretamente, ouvindo pela milésima vez a história que minha mãe contava e hoje repito:
    • No Egito, as famílias se reuniam em torno da sopeira, com seus pães. As pessoas mais pobres não tinham carne de carneiro para colocar no caldo, nem frango ou carne de vaca. A sopa era feita com água mesmo. Cada um mergulhava seu pedaço de pão (sem torrar) na sopa e comia. E se havia muitas bocas, a mãe dava um tapinha na mão do filho, para cair o excesso de Mulokhya.

Si non è vero...

Não me lembro da música que ouvimos nesse almoço em que estiveram Manoela, Pedro, Elisa, Jorge e eu. Faltou Caetano. Faltaram todos os que já se foram. Mas eu me lembro bem de minha mãe cantando La vie en rose. Com ela aprendi a amar Piaf. Graças ao You Tube resgatei esta gravação de 1954.

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sábado, 7 de junho de 2008

Dia 016: Sopa B&B (de cenoura com laranja e perfume de gengibre)

Meu irmão caçula e afilhado, Bernard Christophe, é o gênio da família, tendo-se dedicado à filosofia e filologia desde muito cedo.

Na Alemanha onde vive com sua mulher, Barbara, cientista política conceituada, é muito fácil ter acesso a tudo semi-pronto ou pronto. Essas coisas mundanas de preparar a própria comida ficam para nós, ao sul do equador... Por isso fiquei tão feliz e orgulhosa quando ele resolveu trocar as sopas de pacote por uma de minhas receitas, escolhidas especialmente para Barbara, com quem saboreei uma inesquecível sopa de limão em Frankfurt (hoje vivem em Berlim). E este é o motivo de ter batizado esta sopa de B&B, podia ser também "BuruBuru" ou Sopa DendenMushi... Mas B&B expressa bem a união que têm um com o outro, estes dois Bês queridos: Bernardo & Barbara.

Então, aí vai a receita que lhe passei e as adaptações que ele fez, com as fotos caprichadas!


Receita de Sopa B&B (de Cenoura com Laranja e Perfume de Gengibre)

Ingredientes (para 4 pessoas):
  • 1 kg de cenouras
  • 2 batatas médias (cerca de 300 g)
  • 2 laranjas
  • 2 cebolas
  • 2 dentes de alho
  • 1 colher de sopa de gengibre fresco ralado
  • 4 colheres de sopa de azeite de oliva
  • ½ litro de caldo de galinha
  • 200 ml de leite de coco
  • Coentro fresco picado
  • Sal e pimenta.
Modo de fazer:
  • Descasque e pique em cubos as cenouras e a batata (dica: pique as cenouras em pedaços bem menores que as batatas, porque estas cozinham mais rápido)
  • Pique a cebola e o alho, rale o gengibre;
  • Lave as laranjas, raspe a casca de uma delas e reserve;
  • Esprema as laranjas
  • Numa panela funda refogue a cebola, o alho e o gengibre, no azeite pré-aquecido, e deixe refogando por cerca de cinco minutos;
  • Acrescente as cenouras, as batatas e as raspas de casca de laranja e misture bem;
  • Acrescente o caldo (pode ser de tabletes, tipo Knorr - que agora felizmente tem menos sal - 1 tablete para meio litro de água, ou feito em casa com carcaça de frango) e o suco das laranjas.
  • Quando levantar fervura, abaixe o fogo e deixe cozinhar em panela semi-tampada por cerca de 30 minutos, ou até que as cenouras estejam macias.
  • Apague o fogo, deixe esfriar um pouco, e bata no liquidificador (meu irmão usou um mixer portátil e bateu na própria panela maravilhosa alemã).
  • Acrescente o leite de coco, corrija os temperos (sal e pimenta), esquente novamente em fogo baixo, e na hora de servir enfeite com coentro picado.
Esta sopa tem muitos aromas! Bernardo, que foi o mestre-cuca, disse que utilizou essência de laranja em lugar de laranja e gengibre seco em vez de fresco. Ficou ótimo, mas ele disse que da próxima vez vai experimentar fazer com tudo fresco. Barbara adorou!

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sexta-feira, 6 de junho de 2008

Dia 015: Chowder de Choclo / Sopa de Milho

Pelo menos uma vez por semana, a escolha da sopa cabe ao Jorge... e a preparação também! Fico eu de assistente, picando, descascando... cumprindo ordens, aiai... O resultado é ótimo! A gente bem que se diverte. Vai o relato dele e depois a receita:

"Acredito que ficou claro que este tema das sopas eu inventei junto com Micheline para nos encontrar ao final do dia... É que ainda sendo que a gente trabalha em casa, boa parte do tempo vejo a Micheline pelo skype ou "falo" com ela apenas pelo MSN...

Para mim, fazer as sopas é um jeito para continuar namorando ela!

Assim esta semana eu pensei... 'como é que vou namorar minha mulher?' Escolhi uma receita simples, consegui imaginar ela e até consegui que Micheline colaborasse, sem reclamar.

Manteiga e cebolas picadas bem pequenas para começar... o cheiro é muito bom e sensibiliza os sentidos.. Está vendo? Bem, logo acrescenta as batatas pequenas e o caldo... e deixa ferver...

Escolhi o tema "Aaj Mera Jee Kardaa" do filme "Monsoon Wedding".. um golpe bem baixo mesmo, pues sei que Micheline não só é apaixonada mas fica bem arrepidada... com a música dos seus ancestrais do oriente.

Assim namorando chegou a hora de colocar o milho e logo o leite...

Perfeito! Acredite, a panela ficou vazia e os dois sonhando com "Love And Marigolds" do mesmo filme.

Confira... Isso sim, tem de procurar um bom cúmplice...".
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Do Crandon aprendemos que chowder é uma sopa espessa em que se deixam os alimentos em pedaços bastante grandes. E que facilmente pode ser o prato único, já que é de alto valor calórico e muito nutritivo pela variedade de ingredientes que geralmente o compõem. Pesquisando mais, descobrimos que equivale ao francês chaudière, e que vem do Latim, caldāria.


Receita de Chowder de Choclo / Sopa de Milho

Ingredientes (para 4 pessoas):
  • 4 espigas de milho (ou uma lata de milho verde);
  • 2 batatas graúda cortada em cubos;
  • 1/2 xícara (de chá) de cebola picada;
  • 3 colheres de sopa de manteiga;
  • 2 xícaras (de chá) de água;
  • 1 1/2 xícaras (de chá) de leite;
  • sal e pimenta.
Modo de fazer:
  • Derreta a manteiga, dourar a cebola;
  • Junte as batatas cortadas en cubos, a água ou caldo e cozinhe até que estejam macias;
  • Acrescente o milho cozido e debulhado (use uma faca para cortar os grãos depois que tiver cozinhado as espigas), o leite, tempere com sal (cerca de 2 colheres de chá) e pimenta a gosto;
  • Deixe levantar fervura e sirva imediatamente
Fonte: Crandon
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