segunda-feira, 5 de maio de 2008

Dia 005: Sopa de Inhame com Shiitake

Nunca pensei que essa história de fazer sopas diferentes todos os dias ia nos levar a conhecer pessoas e desenvolver novas relações afetivas. Mas foi o que aconteceu conosco: sou cliente da Em Uso há 33 anos, desde a época de meu primeiro casamento, quando ia à do Leblon, da qual ainda tenho um belíssimo jogo de pratos de barro esmaltados de amarelo. À loja do Largo dos Leões sempre recorro quando quero escolher um presente diferente ou procuro um objeto ou utensílio especial para nossa casa. E quem me atende - e passou a NOS atender - é sempre Reynaldo, o proprietário, com a história de cada produto, de cada artesão... E fomos chegando perto uns dos outros: Reynaldo e Elisa, Jorge e eu. Compartilhando histórias, dicas de ano novo em Montevidéu, dicas de vinho Tanat uruguaio... contando sobre a reação dos presenteados com os produtos da Em Uso...

Até que semana passada entramos mais uma vez na loja para escolher tigelas novas para nossas sopas gratinadas. Assim, descobrimos que Elisa tem uma receita muito especial que Reynaldo adora! Por que não fazê-la a quatro mãos? Topam? Convite feito, convite aceito, marcamos para sábado à noite, dia em que finalmente o casal fecha a loja para descansar no domingo.

Portanto, a sopa de hoje é muito especial: celebra o nascimento de uma amizade e mistura ingredientes de duas culturas - Brasil e Japão: a nossa popular raiz, o inhame, que agora anda na moda por seus efeitos benéficos sobre o sistema imunológico, é a base que se combina ao exótico cogumelo shiitake, japonês, comprado de preferência desidratado, nas lojinhas de produtos orientais (no Rio tem várias no Flamengo, Catete e Laranjeiras). Por que desidratado e não o fresco? Prove! É muito diferente! O sabor é mais forte. E aprendi que a pronúncia certa é [shítake] e não o abrasileirado [shitáke]. Mas até Elisa acaba dizendo [shitáke] para ninguém estranhar e achar que a errada é ela.

É muito bom compartilhar a magia de transformar ingredientes em alimentos que nutrem muito mais que o corpo. Ficamos os quatro - Reynaldo e Elisa, Jorge e eu - em volta do fogão, escutando e contando as histórias das nossas famílias, das tradições que se mantêm e que também se fundem. Elisa é filha de japoneses com histórias lindas e dramáticas da imigração de seus avós. A história de sua tia foi retratada no magistral filme de Tisuka Yamasaki, Gaijin.

Por fim, nasceu esta sopa com os sabores muito marcantes do gengibre, do missô, do alho poró, suavizados pelo aveludado do inhame!


E nessa noite, foi uma autêntica mesa fusion! De entrada, um pudim de figos frescos com queijo brie e molho de maracujá com manjericão. De estrela da noite, a SOPA, e de sobremesa um strudel de frutas vermelhas com chantilly. Com vinho, é claro. Uruguaio, é claro. Um merlot da Casa Filgueira.

Envolvendo a conversa que fluiu fácil, muito alegre pela descoberta de todos, o sax-tenor de John Coltrane, em seu CD Coltrane for Lovers. Minha favorita é Dedicated to You.


Receita de Sopa de Inhame com Shiitake (para quatro pessoas):

Ingredientes:

1/2 kg de inhame
1 alho-poró (inclusive a parte verde)
1xícara de gengibre cortado em tirinhas finas
1 colher de sopa de missô
1 pacotinho de Hondashi (tempero em pó que se compra em lojas de produtos naturais e orientais, em saquinhos)
5 ou 6 shiitakes japoneses secos (se não achar, utilize o fresco)
1 litro de água

Obs: esta sopa não leva sal nem pimenta

Modo de fazer:

Corte os shiitakes em fatias e deixe de molho por 3 horas; cozinhe por cerca de 40 minutos, escorra e reserve.

Pique o inhame em cubos pequenos e coloque para cozinhar numa panela com a água. Enquanto aguarda o cozimento, corte o alho-poró em fatias bem finas enviezadas e o gengibre em tirinhas finas (mais ou menos meia raiz de gengibre). Em uma frigideira, refogue o gengibre por alguns minutos, em um pouquinho de óleo vegetal. Acrescente o alho poró e refogue rapidamente por mais um minuto. Apague a chama e reserve.

Quando o inhame estiver ficando macio, acrescente o shiitake, dissolva o missô em um pouquinho do caldo e misture à sopa. Acrescente o Hondashi. Abaixe o fogo e cozinhe por mais cerca de dez minutos. Acrescente então o refogado de gengibre com alho-poró, misture e sirva imediatamente.

Se quiser, pode preparar a base da sopa mais cedo e na hora de servir deixe levantar fervura e acrescente o refogado recém-feito.

Esta sopa parece trabalhosa mas é super fácil de fazer! E deliciosa!

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2 comentários:

Anônimo disse...

Realmente parece ter sido uma noite perfeita da qual gostaria de ter participado, a nao ser pelo fato de eu detestar inhame...Lembro-me bem do filme Gaijin, sao imagens mesmo de uma outra vida...

Anônimo disse...

Olá queridos Micheline e Jorge,
Esta é a sopa predileta do João Paulo. É umas das minhas também. Nunca imaginaria que todo o sabor do hondashi e do missô combinariam tão bem em uma sopa... de nhame.
Fazemos grande quantidade para podermos comê-la vários dias na semana.. rsrsrs.
Muito obrigada.
Beijocas, Lu e João Paulo